O pensador: este é agora o ser em que o impulso à verdade e aqueles erros conservadores da vida combatem seu primeiro combate, depois que o impulso à verdade se demonstrou como uma potência conservadora da vida
Entrei na faculdade com a certeza de que o jornalismo seria uma forma ágil e simples de alcançar a verdade e de poder levá-la aos outros. Nem preciso comentar o quão ingênuo fui. Ora, se filósofos, cientistas e religiosos também tentaram, cada um ao seu modo, e nenhum deles de fato instituiu algo como definitivamente verdadeiro, quem seria eu para realizar tal utópica façanha? “Deveras”, é concebível que a construção do conhecimento hoje se faça com o uso da destruição. Surge uma teoria, e logo teremos uma crítica para ela. Surge uma nova lei e nós, meros mortais, podemos perceber suas brechas e falhas, suas contradições. “Que seja eterno enquanto dure”. Não mais existem residências tão antigas ao ponto de não terem sido destruídas para outras, mais modernas, se edificarem em seus lugares. Não mais existem verdades que não foram ou ainda serão assassinadas.
“Só sei que nada sei”. A verdade que por enquanto temos é saber que ela ainda não foi alcançada pelas nossas limitadas mentes. Paradoxal? Mas não se desanime, pois, apesar de não possuirmos a verdade, temos alguns indicativos dela: as exatidões. As exatidões são as pecinhas (infinitas) do quebra-cabeça enigmático da vida. É exato que a Seleção Brasileira de Futebol é pentacampeã mundial, mas isso não é necessariamente verdade. A verdade é o conjunto de todos os elementos exatos que levaram o Brasil a conquistar este título. Duvido que alguém neste mundo os conheça.
Voltando ao jornalismo. “O grande problema do jornalista consiste em confundir exato e verdade”, já dizia Juremir Machado. As páginas dos jornais e das revistas estão repletas de exatidões, de possibilidades, de prováveis coisas; isso sem falar de mentiras descaradas e especulações paranóicas. Em resumo, uma reportagem consiste em um mosaico de pontos de vista (do pauteiro, do repórter, dos entrevistados e do editor), permeados por dados exatos, expressos em números ou em fatos passíveis ao relato. O olhar crítico sobre o jornalismo reside na capacidade do leitor descartar a conquista da verdade para, conseqüentemente, analisar os elementos exatos do texto da notícia, geralmente poucos.
A manipulação da imprensa não é forjada mais na mentira e na censura, mas sim nas flexíveis exatidões, nas “corrompíveis” certezas, no invólucro da verdade. A Veja não mente, ela usa dados exatos, discursos polifônicos, interpretações especializadas, sem jamais sair da superfície, sem jamais escavar em direção às profundezas, onde está a verdade. Assim também faz as Folhas, as Gazetas, os Estados, blá blá. A verdade é somente representada por quem dela equivocadamente se apodera. Novamente citando Machado, “o exato é um elemento possível entre outros. Mas não é tudo. É parte, escolhida de um todo. Está correto. Mas não completo. O verossímil sepulta o verdadeiro”. Enfim, a verdade é conhecer o contexto e todas suas mais variáveis nuanças; o exato é saber parte do contexto, e algumas de suas nuanças.
Depois disso tudo, é óbvio que “nada disso tudo” é verdade. Perdeu seu tempo, amigo(a) leitor(a). “Ou não”...
Luis Palma
Um comentário:
Gran finale!! :)
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