Pois bem, esse pequeno ensaio pessimista que escrevi ontem de noitinha foi para o nosso conclamado mestre Osmani. Critiquem-no, por favor.
Um beijo de cinema na alma de todos.
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Profissão indecisão
Já estamos quase no fim da primeira década do século XXI e uma profissão em especial ainda não se encontrou na sociedade moderna. Não que as outras carreiras estejam bem definidas e delimitadas, com suas pretensões, limites e objetivos claramente expostos e sem nenhum tipo de contestação. Muito pelo contrário. Mas esse difícil ofício ainda carece de um maior estudo, ou melhor, de maiores estudos baseados na prática.
Claro que se trata do nosso velho, surrado, mal-tratado e mal compreendido jornalismo. Aquele mesmo que divulgou as milagrosas descobertas da medicina no século XIX e XX, aquele que divulgou começos e fins de guerras e conflitos, que desmascarou corruptos ou alimentou os mesmos, que denunciou Nixon no caso ‘‘Watergate’’ e que destruiu uma família no caso das (falsas) bruxas de Guaratuba.
Ainda não se chegou a um consenso prático, plausível e palpável que estabeleça a ponte entra a vasta literatura teórica e a exuberante cachoeira de experiências práticas infindáveis e incontáveis. O que se vê é a tentativa – em muitos casos sem sucesso – dos profissionais da comunicação em seguir a cartilha do bom jornalismo, do lado belo, almejado e inalcançável da profissão.
Aprendemos – voluntariamente ou à força – nas academias espalhadas pelo país e pelo mundo que o correto é ouvir todos os lados de um fato, independente de quantos sejam, que devemos sempre buscar, a preço de muito sangue, suor e lágrimas, o utópico conceito de imparcialidade, que devemos colocar nossos pés na rua para ver, sentir, cheirar, ouvir e até saborear os acontecimentos antes de transmiti-los para a população perdida – como nós – na enxurrada de informações diárias. A verdade, se é que existe verdade, é que na prática a situação muda de figura.
Os jornalistas têm que lidar, diariamente, com a coerção que lhes é imposta pelas empresas em que trabalham, pelos anunciantes, pelo público, pelo governo, ou seja, por todos os poderes da sociedade. O jornalista é como o filho que vê toda a noite a mãe (prática jornalística) ser espancada pelo pai (empresas, governos, anunciantes...), sem poder fazer nada, sem poder se desprender do temido progenitor, pois sabe que não sobrevive sem ele, não consegue viver à própria sorte em sítios obscuros da sociedade.
O profissional da imprensa também sabe que é muito difícil desempenhar suas funções na plenitude máxima idealizada pelos estudiosos. Sabe que terá que conviver eternamente com questões legais, dificuldades técnicas, vontades e interesses subjugando a ‘‘verdade’’, entre outros pontos. Sabe também que trabalha como menino de recados dos grandes empresários, das grandes corporações, dos governos e poderes paralelos. Sonhou um dia que poderia ser o quarto poder, ajudar a sociedade, ser o responsável por mudanças sociais, pela pregação da verdade, pela busca incansável por justiça. Delírio.
Não que passe longe de tudo isso, que nunca tenha desempenhado de fato algumas dessas funções. O jornalismo é eterno, importante sempre, uma peça fundamental da engrenagem mundial, mas não é e nunca será como está descrito nos livros e na cabeça de teóricos. O melhor retrato do ofício é, na verdade, o que se pratica em todas as redações do mundo, respeitando-se as diferenças, mas nunca esquecendo-se das semelhanças e da realidade.
3 comentários:
Pessimismo exacerbado........hahahah.....boa Auber...Pior que jornalismo....só bater na mãe msmo........
Nossaaaa, eu fiquei com dó do jornalista agora, que vê o pai bater na mãe, de verdade :(
E essa relação sombria, doentia com o progenitor, cada coisa horrível Auber! Ta lendo muito Freud e levando a sério as perversões dele...
Mas muito bom o texto, apesar de negativista...
E continuemos tentando angrariar migalhas de participação do resto da turma no blog... Não tem nada mais frustrante do que se empolgar sozinho com alguma coisa =/
Esse já eu conhecia!
Adorei as metáforas!
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