domingo, 27 de abril de 2008

Enquanto isso na sala de justiça...

Depois de uma semana, lá vai meu texto do Ayoub Ayoub Ayoub Ayoub. Um beijo na alma de todos.
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O Dia em que a câmara parou

O que vale nove mil reais? Um carro usado talvez, ou uma moto, quem sabe até mesmo um home theater desses modernos, com tudo que se tem direito. Entre um número quase que infinito de respostas a essa simples pergunta, o ex-vereador londrinense Henrique Barros preferiu uma pouco convencional: Seu mandato e talvez – frise-se o talvez – sua carreira política. Desde o dia 10 de janeiro de 2008, quando foi preso em flagrante por extorquir nove mil reais de um empresário, o edil protagoniza um dos maiores escândalos na política londrinense desde o caso Belinatti.
Convém notar que Henrique Barros não é o único envolvido nessa trama que beira o pastelão de Didi Mocó e os Trapalhões. A trupe de políticos envolvidos traz outros tantos nomes, cada um com seu grau de atuação e importância dentro do imbróglio. Entre os principais: Orlando Bonilha (PR), Renato Araújo (PP), Flávio Vedoato (PSC) e Osvaldo Bergamin (PMDB. O primeiro – que até então era o presidente da câmara – sonhava concorrer ao cargo de mandatário máximo do município, mas, em discurso logo após sua renúncia, descartou essa vislumbrada possibilidade.
Relembrando um pouco os acontecimentos para quem não está a par dos fatos: Os cinco vereadores formavam um grupo que extorquia empresários em troca da aprovação de projetos de leis, propostas de doações de terrenos e demais pendengas burocráticas que interessavam os corruptores. Geralmente as somas não ultrapassavam a casa dos dez mil reais. Após a divulgação das investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) e dos primeiros depoimentos das supostas vítimas, ficou comprovado que os representantes do povo se vendiam por muito pouco. Pouco mesmo.
O interessante é saber que mesmo com todas as provas a disposição, mesmo com todo o enfoque da imprensa, mesmo com toda a repercussão do caso, as leis demoram para punir os envolvidos no esquema. O curioso também é se atentar para o fato dos empresários sempre terem sido chamados de vítimas dos vereadores. Ora, quem pede dinheiro ilícito é tão culpado quanto quem aceita o pedido e efetiva o pagamento. Ou não?
E, outro enfoque que se dá, é que a vida política da cidade parou. É notório que o tripé dos poderes em Londrina nunca foi muito sólido ou equilibrado. Mas nunca se viu tamanha inoperância tanto no executivo, tanto no judiciário e ainda mais agora no legislativo. Se a cidade andava no passo – lento - dos administradores até agora, a coisa piorou sobremaneira. Talvez, por ser ano de eleição, algumas coisas mudem e a cidade vire novamente um canteiro de obras, um político mais ligeiro apareça como defensor dos cidadãos e coloque os envolvidos na cadeia ou até mesmo não aconteça nada, mais uma vez. O importante é que, do dia 10 de janeiro até hoje, a câmara, a cidade e tudo que os engloba, parou. Efeito colateral da nossa democracia falha? Provavelmente.
O que se sabe é que em pleno sul do país, em terras férteis e prósperas, se ouve nada mais nada menos que a mesma declaração das vítimas sertanejas do exército brasileiro em Canudos, como narra Euclides da Cunha em ‘‘Os Sertões’’. Estamos sendo decapitados enquanto gritamos com todas as forças ‘‘ Viva a república!’’.

3 comentários:

Luiza disse...

Acho que "Enquanto isso na sala de justiça..." seria um título melhor, mas não creio que se enquadre no senso de humor Ayoubiano. Mas você sempre pode tentar uma piadinha envolvendo turcos ou árabes...

Muito bom o texto, estou cada vez com mais vergonha do meu. :/
Será que mais alguém vai compartilhar suas elucubrações com a patotinha do blog?

Estou aguardando. Câmbio.

Oscar disse...

Já tinha lido o texto antes. Mas vou comentar aqui p/ dar uma força ao nosso blog.

Renata Santos disse...

Não me lembre que Ldna é assim, Auber!