sábado, 16 de agosto de 2008

Essa gente bronzeada e o chororô olímpico


by Ruth de Aquino
A cada medalha perdida, a cada último lugar numa final, a cada travessia suada para uma semifinal, nós somos convidados a chorar de orgulho verde-amarelo, enrolados na bandeira, pelo esforço de atletas excepcionais. É a maior delegação brasileira, 277 atletas, uma população de quase 200 milhões e, até o fechamento desta edição, sexta-feira à tarde, tínhamos quatro medalhas de bronze. Que me desculpem, mas não consigo me emocionar com o desempenho do Brasil nas Olimpíadas. Está longe de nosso potencial humano.

Acorda, Brasil, antes de 2016! O incentivo precisa ser consistente e planejado para nossos atletas não chorarem de decepção. Eles são movidos a teimosia e paixão. Carentes de uma política esportiva séria. Dinheiro já existe. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) recebe R$ 50 milhões por ano. Em Sydney (2000), últimas Olimpíadas em que o COB mendigava verbas do governo, ganhamos 12 medalhas: seis de prata e seis de bronze. Em Atenas (2004), foram dez medalhas: quatro de ouro, três de prata e três de bronze. Para onde vai esse dinheiro do COB? Quanto é sugado por despesas administrativas?

“Ainda é cedo para um balanço, porque o Brasil é forte em esportes coletivos, que só rendem medalha no final; e aí a percepção de fracasso muda inteiramente para sucesso”, diz o editor-executivo André Fontenelle, nosso especialista enviado à China. “Mesmo assim, na melhor das hipóteses, ganharemos um total de 18 medalhas, e sempre nos mesmos esportes e com as mesmas figuras. Uma evolução pífia”. Para seu tamanho e dinheiro disponível, o Brasil deveria ganhar umas 30, como a Grã-Bretanha, décima colocada em Atenas.

O brasileiro é bom de briga. Dá para ver pelo judô. A primeira mulher a conquistar medalha em esporte individual para o Brasil foi a judoca Ketleyn Quadros, de 20 anos. Nasceu em Ceilândia, cidade-satélite de Brasília. A mãe a matriculou na natação, mas ela fugia para ver o judô. Aos 10 anos, numa redação escolar, escreveu que ganharia uma medalha. Hoje, em Belo Horizonte, Ketleyn recebe salário do Minas Tênis Clube. Para financiar sua viagem a Pequim, precisou que amigos em Ceilândia fizessem uma vaquinha. Vaquinha para uma campeã?

O desempenho do Brasil nas Olimpíadas está longe de nosso potencial humano. Na categoria de choro derramado, o Brasil já é ouro

A mídia dá cambalhotas para minimizar o constrangimento de anunciar repetidas derrotas para telespectadores insones. Ninguém agüenta mais acordar cedo para ver o Brasil perder. Na falta de medalhas, a mídia entrevista famílias com voz embargada. E vamos todos à maternidade, onde está o filho recém-nascido do Marcelinho do vôlei. Close nos olhos vermelhos de todos. A musa Ana Paula também chora com saudade do filho. E o brasileiro chora junto, porque é sentimental e adora uma novela. Na categoria de choro derramado, o Brasil já é ouro.

Quando uma americana ganha prata, ela se irrita. Quando as ginastas brasileiras ficam em oitavo e último lugar numa final, pulam de orgulho por ter sido a primeira vez. Em patriotismo de resultado, ninguém bate os chineses e os americanos. Para eles, o que interessa é o pódio. Por trás, contam com uma extraordinária estrutura oficial, não só verba. Quando o Brasil conquista medalhas, elas vêm de talentos isolados que vencem adversidades. Ou de um esporte coletivo como o vôlei, mais bem-sucedido por ter apoio de empresas.

Vão dizer que o Brasil tem outras prioridades, como saúde e educação fundamental. Mas, se vamos investir uma fortuna para tentar trazer os Jogos para o Rio de Janeiro em 2016, precisamos evoluir no quadro de medalhas. Por que acabou a obrigatoriedade de Educação Física nas escolas? País anfitrião não pode dar vexame. Não pode deixar a vitória escorrer entre as mãos e os pés.

Olimpíadas não são uma questão de sorte, embora Jade tenha dito que a ginástica é “uma caixinha de surpresas”. Olimpíadas exigem preparo, preparo, preparo. Planejamento, persistência, trabalho a longo prazo. Dinheiro chegando ao destino certo. Atletas não precisam ser heróis nem fenômenos Phelps. Bronze é bom, mas essa nossa gente bronzeada também almeja ser prata e ouro. E aí, ninguém mais segura o choro do Brasil.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Um "algo" despretensioso

Pra começar, eu queria escrever um texto que pudesse dar uma injeção de ânimo neste blog. E queria poder também adivinhar os pensamentos das pessoas, para saber qual o assunto mais conveniente a ser escrito aqui. Eu queria que aqueles que um dia, num tempo não muito distante de suas vidas, idealizaram este blog (sabe-se Deus com quais intenções), não virassem a cara simplesmente e fingissem que ele não existe mais. E eu queria poder neste momento deitar no colo de alguém que eu amo e comer torta de chocolate com brigadeiro...

Mas, como nem sempre podemos ter aquilo que mais queremos e como, apesar da idéia de contribuir com um texto para esse blog eu descobrir que ainda não me sinto confortável para expor minhas dúvidas, dramas e alegrias para pessoas pelas quais eu confesso na maioria das vezes não sentir muita intimidade, resolvi postar um texto simpático e não de minha autoria, mas que revele um pouco do que eu quero dizer.
Prometo que num momento de coragem e inspiração eu escrevo algo mais pessoal e por isso mesmo mais sincero.

beijos de gato na bochecha de todos ;P

Deus e o Diabo

Tem dias em que fico completamente apaixonada pela minha profissão, pelo ato de escrever e por cada minúcia dessa função tão inteligente, social, bonita e gratificante. Tem dias em que eu tenho vontade de jogar todos os papéis pela vidraça e me candidatar a ser caixa de supermercado, emprego bem mais decente e que faz muito mais sentido.

Num momento, eu quero abraçar bastante algumas pessoas – quiçá até fazer-lhes um cafuné no cabelo e estalar um beijo na testa. Para, no momento seguinte, elas dizerem ou fazerem alguma coisa e me deixarem com vontade de picá-las bem miudinho e guardá-las no freezer, atrás das coxas de frango.

Tem horas em que minha casa parece um castelo, um paraíso, uma Shangri-la doce e acolhedora que me faz feliz apenas com seus tacos de madeira semi-brilhantes e as paredes de tijolos cinqüentenários. Tem horas em que eu só vejo o teto do banheiro descascando, as marcas de sapato no chão, a janela emperrada e a maldita pia onde mal cabe um prato e duas xícaras. Daí eu fico em dúvida se fotografo a casa e mando para uma revista ou se ateio fogo nela.

Num minuto quero cabelos curtos, simples, baratos, frescos. No outro minuto eu gosto da juba enorme, que cai pelos ombros e promove penteados lindos e aquelas emocionantes jogadas de franja.

Sei que adoro milho verde na espiga ou refogado. E sei que detesto milho verde em forma de sorvete ou (nojo!) pamonha.

Assisto um pouco do “Programa Amaury Jr.” revezando com “Reescrevendo a História”, passando para “Os Reis de Dogtown” nos intervalos e espiando o jogo de futebol americano sempre que possível.

Eu sei dizer elogios e gosto de falar bonito sobre aquilo que sinto e penso. E sei xingar como um marinheiro do cais do porto também.

Planejo sair para um passeio disposta a encontrar diversão – e fico sorridentíssima com o bom almoço, o cafezinho, o bate-papo, a revista que comprei. Em dois segundos, passo a bufar de raiva com o trânsito de volta, o calor da rua, o cansaço nos pés, a ignorância humana.

É do céu ao inferno em questão de uma piscada. Pode ser TPM, bipolaridade, mau gênio, falta de vitaminas, muito mimo. Sei lá. Só sei que faz todo o sentido pensar que Deus e o Diabo só existem, com toda certeza, dentro da gente.

Fla Wonka


http://garotasquedizemni.ig.com.br/archives/002297.php#more

p.s.:como eu disse, nem tudo que está aí são coisas com as quais eu identifico...mas eu imagino o quanto seriam engraçadas e estranhas se acontecessem...