sexta-feira, 2 de maio de 2008

Ser jornalista hoje...

O meu texto do Osmani.
Sem beijo pra ninguém que isso é coisa de gente sem-vergonha.




Sobre fazer jornalismo:
um novo caminho é possível?

Muitos dos conflitos e dilemas profissionais vêm à tona quando a pergunta é: o que é ser jornalista, hoje? Desde os ideais elevados, que norteiam muitos aspirantes, até a vida prática que os esmague e contradiga, há um longo e nebuloso caminho a ser percorrido. Alguns problemas podem ser levantados, mas talvez sejam questões éticas e morais cuja solução está fora de nosso alcance. Por exemplo: o papel do jornalista, no contexto atual, é o de meramente informar? Ou deveria ele ser auxiliar na formação de uma consciência crítica nos leitores?
Diversos aspectos devem ser considerados para que se responda a essa questão. Ela provavelmente terá respostas diferentes aqui no Brasil e nos Estados Unidos, por exemplo. Acompanhando a desigualdade social e as diferenças culturais, em nosso país pode ser admissível que o jornalista assuma para si a incumbência de, além de informar, educar. Essa é, teoricamente, uma função do Estado, e não de jornalistas. Porém, considerando o contexto social do país, os meios de comunicação de massa podem constituir um auxílio válido a um sistema governamental que não prioriza a educação. E não é pela impossibilidade de fazer uma revolução que o jornalista (ou qualquer cidadão) deve se omitir de realizar o que está ao seu alcance para melhorar o mundo em que vivemos.
Outra polêmica que merece especial atenção é sobre o que caracterizaria a censura, o ataque à liberdade de imprensa. Afinal, a alegação de censura é a reação imediata de alguns jornalistas quando vêem seu trabalho criticado. O que pode ser definido como publicável? Deve-se sempre tentar atender aos anseios do leitor/espectador? A resposta padrão, nesse caso, oscila entre “agradar o leitor a qualquer custo” ou “usar de bom-senso”. Claro que agradar o leitor a qualquer preço não se mostra sempre uma boa alternativa; basta tomar como exemplo o recente caso da morte de Isabela Nardoni, que assumiu dimensões absurdas. Por outro lado, ‘bom-senso’ não é um conceito universal, e sua interpretação é bastante subjetiva. Parece que chegamos a um impasse.
A lei assegura a liberdade de imprensa. Mas, o fato de que qualquer coisa possa ser publicada não significa necessariamente que um determinado fato o será. Muitas vezes, a escolha pela publicação ou não independe do interesse público pelo acontecido, o que, no fim das contas, para os jornalistas, é outro conceito abstrato. Sabemos nós realmente qual é o interesse do público? Pode-se alegar que as vendas sejam um bom indicativo, mas, como saber se os mesmos leitores não comprariam produtos diferentes se lhes fosse oferecido?
Daí depreende-se ainda outro desafio desta profissão instigante: como fugir da “matéria pronta da pauta pronta”, para usar as palavras de Mauricio Menezes? Não se trata apenas de capturar o interesse de um consumidor de notícias desatento, mas de lhe oferecer uma alternativa, um novo ângulo para uma cena conhecida, para que ele possa vislumbrar uma percepção de mundo diferente. É muito fácil receber prontas as notícias preparadas por alguém e repassá-las. Não é nem necessário ser jornalista para fazê-lo. Conformar-se com isso é fazer um pacto com a mediocridade, e desacreditar ainda mais o trabalho que tanto amamos realizar.

Talvez estes problemas sejam inexistentes, irrelevantes ou passem desapercebidos na prática diária de jornalismo. Pode ser que todas as questões aqui levantadas sejam abstratas demais, e estejam afogadas sob a enxurrada de fatos que, ansiosos por virarem notícias, invadem as redações diariamente, cada vez com maior fúria e em maior quantidade. Quiçá, então, nosso único termômetro possível seja o momento antes de dormir: só ali saberemos, com certeza, se nos orgulhamos das pessoas que somos e do papel que representamos ao longo do dia.

2 comentários:

Renata Santos disse...

Bom texto, Luh! Adoro "quiçá"!
=)

Luiza disse...

Eu detesto hahahahahahha
mas não tive opção